Utilize este identificador para referenciar este registo: http://hdl.handle.net/10071/31558
Autoria: Saldanha, J. L. P. de
Editor: Paulo Tormenta Pinto
Ana Tostões
Data: 2023
Título próprio: Centro Meteorológico de Barcelona: A Rotonda de Álvaro Siza
Título e volume do livro: A monumentalidade crítica de Álvaro Siza
Paginação: 86 - 95
Referência bibliográfica: Saldanha, J. L. P. de (2023). Centro Meteorológico de Barcelona: A Rotonda de Álvaro Siza. In P. T. Pinto, & A. Tostões (Eds.). A monumentalidade crítica de Álvaro Siza (pp. 86-95). Circo de Ideias. http://hdl.handle.net/10071/31558
ISBN: 978-989-35212-3-6
Resumo: Propõe-se que a Rotonda de Álvaro Siza, em Barcelona, se trata de uma peça de arquitectura do cinquecento renascentista, no «Estilo Chão» português cunhado por George Kubler (1912-1996), o historiador de arte americano conhecido pelo seu interesse na arquitectura desenvolvida ad marginem das principais tendências internacionais. Kubler tomou emprestada a palavra-chave do Estilo Chão (Plain Architecture) do primeiro volume de “Lisboa Antiga”, de Júlio de Castilho (Lisboa, 1840-1919). Lendo essa publicação, colhe-se a impressão de que o historiador de arte americano poderá ter rejubilado com a oferta, condensada, de bem mais que uma frase de efeito. Apesar da atenção prestada ao trabalho de Júlio de Castilho por Joana Cunha Leal (Leal, 2013), e outros, admite-se que certos leitores de Kubler não tenham tido oportunidade de ler a sua reconhecida fonte: “Se penetrássemos na casa semi-rural de Nicolau de Altero, havíamos de encontrar necessariamente os mesmos predicados, e os mesmíssimos defeitos da classe. […] O português nunca possuiu, como não possui hoje, por via da regra, o segredo de se enflorar, pobre ou rico, das bagatelas inteligentes, que na casa inglesa aparecem dispostas com uma arte sempre nova, e sempre significativa; é mais severo, menos embrincado, e mais sombrio. […] Por isso, penso que na vivenda de Nicolau de Altero, de que talvez algumas cenas de interior do D. Quixote nos dão ideia, predominasse certa feição meio sóbria, até como reflexo da vizinha Casa professa dos Padres da Companhia . Essa feição, revelada talvez no viver pautado, no cumprimento exacto do dever, na caridade sincera e não ostentosa, na observância dos preceitos religiosos e civis, casava com o estilo chão da arquitectura, que não era certamente aquele opulento gótico do século XV, que no género de habitações particulares tantas maravilhas produziu lá fora.” Kubler seguiu, no seu livro de 1972 (publicado em português apenas em 1988) um “critério mais recente segundo o qual nenhum estilo ou categoria exclui a possível convergência simultânea de muitas outras categorias anteriores”, em vez de, a “cada determinado lugar, num dado período, [corresponder] exclusivamente um estilo” (Kubler, 1972: 4). Estilos que se sobrepõem, em simultâneo, em certos momentos na carreira multifacetada de Siza, conforme o seu edifício em Barcelona demonstra. Onze anos depois de Kubler publicar a sua teoria sobre a arquitectura chã, Kenneth Frampton revelou as suas reflexões sobre o Regionalismo Crítico, num artigo da revista Perspecta, que o encaminhou igualmente até ao umbral da arquitectura portuguesa. Pode sugerir-se que, do ponto de vista de Frampton, o «estilo chão» de Kubler caberia no tempo longo do regionalismo crítico. A leitura de Frampton sobre as manifestações de regiões “especialmente sintonizadas com o pensamento emergente do tempo”, assim como “a genialidade desta região para estar mais que ordinariamente ciente e mais que ordinariamente livre” (Frampton, 1983: 153) teria, por certo, sido subscrita por Kubler. Por outro lado, a afirmação sobre “a capacidade da cultura regional recriar uma tradição enraizada enquanto apropria influências estrangeiras ao nível tanto cultural como civilizacional” (Idem: 148), parece directamente extraída de Kubler (o qual, curiosamente, Frampton não cita). Nesta linha de raciocínio, merece citar Alexandre Alves Costa, quando propôs que “a sociedade portuguesa tem algumas características por assim dizer pré-pós-modernas. Trata-se de ousar revalorizar, nessa perspectiva, as mais importantes experiências arquitectónicas do pós-25 de Abril: a promessa que foi o SAAL/Norte e a obra de Álvaro Siza” (Costa, 2002: 37). E, de facto, Frampton propôs que a fertilização cruzada e reinterpretação no regionalismo crítico, por definição impura, era evidente, “digamos, no trabalho do arquitecto português Álvaro Siza” (Frampton, 1983: 149). Philip Jodidio declarou (2013: 167) que o Centro Meteorológico se trata de um projecto “invulgar na obra de Álvaro Siza podendo ser difícil de identificar como trabalho seu pelo não iniciado” (fazendo o autor do presente texto votos de não integrar, nem os leitores, essa categoria). Trata-se, até à data, de um corpo estelar mais remoto, menos escrutinado, ou até incompreendido, na galáxia de realizações de Siza. Frampton situa-o - dentro da sucessão de fases que propôs para o caleidoscópico trabalho de Siza - na etapa Dito no vazio: 1979-1985, quando “a arquitectura de Siza a partir de finais dos anos setenta [estabelece] uma série de afinidades de natureza neoclássica”, protagonizada, por exemplo, na sua entrada para o concurso de 1979 para as piscinas de Görlitzer Bad, em Berlim. Esta “maneira protoiluminista, reaparece no cilindro inclinado da sede da companhia DOM, em Colónia (1980) ” e, durante “a seguinte década, Siza prossegue com projectos de planta circular e formas cilíndricas”, como no Monumento às Vítimas da Gestapo (Frampton, 1999: 30).
Arbitragem científica: yes
Acesso: Acesso Aberto
Aparece nas coleções:DINÂMIA'CET-CLN - Capítulos de livros nacionais

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